Cada ano, no segundo sábado de maio, celebra-se o Dia Mundial do Comércio Justo,uma ocasião para dar visibilidade a esta alternativa através da organização de palestras e debates, da difusão de documentários, da realização de exposições, que trazem junto do grande público informações que permitem perceber melhor a injustiça no comércio internacional e o poder dos consumidores para mudar esta realidade.
Se durante muitos anos o Comércio Justo que se exprimia neste dia mundial só apoiava os produtores e produtoras nos países menos desenvolvidos, essencialmente na Ásia,África e América Latina, vimos aparecer mais recentemente novos discursos, novas práticas, outros atores, que defendem que a geografia das injustiças nas relações comerciais é mais complexa do que a separação entre países mais ricos e mais pobres, e que nos países desenvolvidos, também, os pequenos produtores estão cada vez mais marginalizados pelos atores dominantes da economia de mercado.
Uma exploração agrícola tradicional desaparece a cada 3 minutos na Europa, em beneficio da produção de grande escala e da agro-industria, anunciando a morte programada da agricultura camponesa e familiar, esta mesma que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação reconhece como sendo a mais apta a alimentar o mundo de maneira saudável e equilibrada, a preservar o meio ambiente, os recursos e a biodiversidade e a estimular uma economia local ao serviço das pessoas e das comunidades rurais.
Este Comércio Justo com uma visão mais ampla e global, não circunscrito a uma estrita relação entre países ricos e pobres, assenta na defesa de uma ideia promovida pelos movimentos camponeses mundiais como a Via Campesina: a Soberania Alimentar, ou seja, o direito dos povos a escolherem livremente os seus sistemas de produção agrícola e alimentares, em beneficio das pessoas e do meio ambiente, em beneficio de um futuro sustentável e justo.
O que que podemos fazer para inverter esta terrível tendência que permite que 900 milhões de pessoas ainda sofram de fome, que estejamos tão perto de um desastre ambiental irreversível, que uma camponesa, seja no Sul ou no Norte do mundo, não possa viver dignamente do seu trabalho..? Podemos sentir-nos impotentes perante tal retrato, em grande parte porque a economia de mercado conseguiu fazer de nós meros consumidores passivos, em detrimento da nossa cidadania. A re-apropriação do nosso poder de compra pode, no entanto, contribuir para transformar esta realidade, se formos atentos às alternativas ao nosso alcance: circuitos curtos (os já famosos cabazes vendidos diretamente pelos produtores, por ex.), lojas ou restaurantes de produtos locais, lojas de Comércio Justo podem ser vias de intervenção através do nosso consumo. Mas é também importante não abdicar do nosso papel cidadão e, pela nossa participação, fazer de modo a que as políticas públicas possam consolidar estas alternativas. Para isso, é fundamental que nos mantenhamos informados, que percebamos o que está em jogo nas discussões políticas, a nível local, nacional, europeu...
E se começássemos por tentar entender o que é o Transatlantic Trade and Investment Partnership – TTIP, um acordo que está a ser negociado de maneira muito opaca e que pode seriamente hipotecar o nosso futuro coletivo?
4 de Maio 2015
CIDAC/Stéphane Laurent